“Guillermo Del Toro sempre trabalhou em duas frentes: por Hollywood filmou Hellboy e Robôs Gigantes e pelo oficio criou faunos e fadas. Melhor: uma velha historia que ouviu da avó conservadora e religiosa, uma fabula que interpreta a realidade histórica em tom de fantasia e terror, poder e inocência, sem muito dinheiro, mas originalidade. Um “novo mundo”, onde se encontra a paz sem sacrificar a integridade. Um filme para adultos, para jovens, menos fácil de vender e, por causa disso, mais interessante.” (Mauricio Ribeiro, Spoiler)
“Obra misteriosa que parte de um conflito entre o homem racional e as bestas selvagens e se amplifica através de sua narrativa quebradiça, que em determinado momento pari em si mesma um novo filme para colocar o espectador em condição semelhante à do protagonista: perdido na selva em uma noite escura, na qual não se vê mais que cinco palmos à frente da face. Um dos mais enigmáticos e encantadores filmes desse novo século, bela síntese da promissora filmografia de Apichatpong.”(Daniel Dalpizzolo, Multiplot)
“Podia ser um extenso documentário poético sobre 1968. Porque Garrel dá a pensar que ainda está lá. Fez um filme libertário como a época, e não se apega às efemérides de revolta ou aos estereótipos de amor aberto – como fez Bertolucci pouco antes. Mostra os vazios, as horas de tédio, os desencantos, e o que há de anti-heroico e humano por trás das palavras de ordem e da novidade comportamental. Um jovem que ama a revolução – mas não tanto que vá matar por ela. Uma jovem enamorada por ele – mas não tanto que mude seus planos. Constante aqui é a grandeza desse cinema. Não é o amor.”(Alexandre Carvalho, Noitada)
“Sofia Coppola retrata com sensibilidade esta história de cumplicidade entre dois estranhos que descobrem um no outro o que não conseguiram achar em qualquer outro lugar. A escolha por Tóquio, uma cidade que pouco compartilha dos costumes dos ocidentais, ajuda na intenção de transpor quadro a quadro os sentimentos de desconforto e desorientação característicos dos personagens. Primando pelo roteiro e atuações, Encontros e Desencontros é um delicado retrato do abismo que existe em cada um de nós.”(Mila Ramos, Cenas de Cinema)
“A dor da perda é o que move Brilho Eterno. Mas não aquela perda saudosa, que te faz olhar para o passado e imaginar o quanto tudo era diferente. É aquela perda que desce pelo ralo do dia a dia de uma relação esgotada. É a perda que se nota esvair, mas cuja inércia do comodismo ou medo da quebra de uma frágil estrutura te faz recuar e olhar de longe aquele sentimento desvanecer. É como uma inconsciente autoflagelação. Prefere-se destruir aos poucos a estrutura do que derrubá-la de modo doloroso, porém fugaz. A originalidade da obra, no entanto, te faz sorrir e acreditar que ainda há esperança no amor. Mútuo e pelo cinema.” (João Paulo Barreto, Película Virtual)
“Em seu filme mais equilibrado, Almodóvar experimenta mudanças em seu “universo”: muda a narrativa, trocando o habitual ponto de vista feminino para centrá-lo sob a ótica masculina; e a cenografia “kitsch” saiu de cena sendo substituída por ambientes com cores mais sóbrias e discretas. Mesmo assim, através da trajetória dos protagonistas, o roteiro de Almodóvar, excelente escritor de melodramas, não perde de vista a sensibilidade, a paixão e o choque sempre presentes em seus surpreendentes filmes.” (Paulo Jr., Baú de Filmes)
“David Cronenberg já explodiu cabeças e transformou homens em moscas em uma carreira pautada pela investigação das potências relacionadas ao corpo humano. Em Marcas da Violência, o cineasta reinventou sua linguagem ao narrar as consequências da conflitante relação entre corpo e mente. Como se desvencilhar de um passado que insiste em insurgir através da pele? Num dos pontos mais altos de sua obra, Cronenberg nos mostra que o corpo humano, fonte de inesgotável prazer, também pode ser uma prisão.” (Samuel Lobo, Cineman)
“Um diretor que lida com a memória de seu continente, do imperialismo, das tensões sociais e raciais, através de metáforas que explicitam a tensão diluída no dia a dia. Caché é um filme sobre uma responsabilidade esquecida. Haneke toma para si a responsabilidade de colocar aquilo que estava “escondido”, como diz o título, em posição de visibilidade, e deixa uma fita na porta de cada cinéfilo, com cenas que não queríamos ver, mas que deviam ser inevitáveis. Feridas que julgamos já cicatrizadas colocadas outra vez em carne viva.” (Ana Clara Matta, Ovo de Fantasma)
“Os Coen fizeram sua fama com uma dose cavalar de humor negro e personagens exóticos em filmes como Fargo, Grande Lebowski entre outros. Mas, foi com um western moderno e amargo que o grande público os abraçou. Uma historia de cobiça, vingança e ódio sobre um rancheiro cheio de dívidas, o policial que investiga um crime hediondo e um matador excêntrico. Onde os Fracos é um trabalho de atores intenso (Javier Bardem impressionante) e uma direção que está a serviço da historia contada, sem exageros.”(Alexandre Landucci, Fotograma Digital)
“Hayao Miyazaki tem a capacidade de pegar situações, quaisquer que sejam elas, e transformar em belas e emocionantes histórias. Como se nunca tivesse perdido aquele filtro infantil que transforma a realidade em algo parecido com sonho. As Viagens de Chihiro é a comprovação disto. O medo do novo e o amadurecimento são retratados de maneira simples e fascinante. Com traços diferentes, o diretor japonês traz o espectador para o filme e não o deixa sair. Fazendo pensar e, o mais importante, sentir.” (Cecilia Barroso, Cenas de Cinema)
“Justificando a visão das minorias representadas pela figura de Grace (Nicole Kidman), jovem perseguida pela polícia e por mafiosos, Dogville é um conto pessimista inspirado no teatro “caixa preta” de Bertold Brech. Von Trier instiga com tom irônico e fabuloso através da narração de John Hurt e valoriza a mise-en-scène por outro teatro, o dos absurdos. O jogo de compensações entre os moradores de Dogville e Grace logo remete à submissão e permissividade estrangeira aos EUA, culminando nas atrocidades iniciadas no dia da “independência”. Grace é devedora e Dogville é perversa. Basta saber qual é a maior em um mar de tragédias.” (Pedro Tavares, Cinemaorama)
“James Gray conseguiu um quase perfeito equilíbrio dramático com esta obra cuja força das imagens e das atuações o colocam como um dos grandes romances dramáticos dos anos 2000. Inspirado no conto “White Nights” de Dostoievski, o diretor James Gray extraiu grandes atuações do elenco encabeçado pelo inspirado Joaquim Phoenix. Amantes é um daqueles filmes que merecem ser vistos pela profunda beleza de sua atmosfera que causa no espectador mais sensível vários momentos de reflexão sobre a condição humana.” (Wendell Borges, Arquivo de Cinema)
“Da relação pai-filho marcada pelo legado de uma indústria e seus numerosos trabalhadores ao papel social da religião, são vários os temas abordados por Sangue Negro, e a estética grandiosa de Anderson permite um toque profundo em todos eles. Seu protagonista, Daniel Plainview, se assemelha em trajetória a Charles Foster Kane, do clássico de Welles. A diferença é que a fragilidade de Plainview está exposta o filme inteiro: o bastardo numa cesta, o seu próprio rosebud.” (Cesar Castanha, Milos Morpha)
“Não há janela para o mundo que sobreviva a Tarantino. Em Bastardos Inglórios, o diretor mata Hitler e põe fim à Segunda Guerra dentro de um cinema, através da combustão de enorme quantidade de rolos de filme. Ao historiador mais conservador, tudo soa como uma terrível profanação do seu campo de conhecimento, mas trata-se, na verdade, de um justo grito de liberdade da arte em relação à tão almejada fidelidade histórica. Bastardos Inglórios é o filme americano mais importante da década passada.” (Wallace Andrioli, Crônicas Cinéfilas)
“Em Amor à Flor da Pele, o silêncio das personagens é suficiente para criar um dos mais sedutores quadros centrados no amor, melancolia e desejo. Wong Kar-Wai repete-se ao longo do filme numa poesia rítima, como movimentos lentos e levemente erotizados, fazendo deste um dos mais belos e inocentes filmes de sempre, onde parece impossível não ceder ao encanto do que vemos. Tanto que as palavras são limitadas para descrever a sensação de assistir à castidade deste Amor proibido.” (Tiago Ramos, Split Screen)
“Um retrato da intimidade. Poucas palavras poderiam definir melhor esta obra-prima de Linklater. Tudo neste filme é puro, natural, incrível. O reencontro do casal tem o desconforto, o não-dito, um trabalho primoroso no preparo que o trio Linklater, Hawke e Delpy, autores, tiveram para que tudo soasse tão em seu lugar. Paris é apenas uma avenida que colore o filme. A verdadeira beleza está nas crônicas de erros e acertos, mesmo quando tudo deveria ser menos complexo. Quando Jesse acena consentindo que perderá o avião já não há quem possa não querer estar ali, continuamente, para não mais abandona-la.” (Guilherme Martins, O Esporte Favorito dos Homens)
“John chega à escola trazido pelo pai bêbado. Elias se dirige ao laboratório onde prepara fotos e elabora o futuro. Michelle tenta esconder o corpo esquisito das outras moças da aula de educação física. E Eric e Alex querem justiça. Não é certo que sejam importunados por atletas brutamontes. Sob o lápis do diretor, arquétipos básicos são tratados com a delicadeza de quem transforma clichês em identificação. A câmera mostra e o espectador tira suas conclusões. Não há heróis ou vilões, apenas vítimas.” (Chico Fireman, Filmes do Chico)
“Com Cidade de Deus, Fernando Meirelles conseguiu talvez o maior sucesso internacional da história do cinema brasileiro. O filme é figurinha fácil dentre os melhores filmes de sua década, na opinião de diversos críticos e fãs mundo afora, sem qualquer patriotada. Não surpreende, tendo em vista seu ritmo ágil e envolvente, e suas ótimas atuações, alicerçadas por um roteiro muito inteligente, alternando comédia e violência. Mais uma prova que o Cinema brasileiro nunca vai ser pequeno, porra!”(Marcelo Rennó, Cinema Desde Sempre)
“Apuro estético, texto afiado, o pop como estilo norteador, tudo perpassando pelos tons de violência e humor negro. É todo o verniz cult e autoral que torna esse projeto tão prazeroso de se ver, mesmo pelo grafismo brutal das mortes que deixam seu rastro sangrento. A noiva que quer matar Bill é no fundo a mãe que busca a vingança pela filha que lhe foi tirada. Essa é sua sina, numa jornada tão louca quanto improvável. É um remendo de referências, mas o coração pop de Tarantino está todo aqui.”(Rafael Carvalho, Moviola Digital)
“Muito se fala em polissemia nos filmes de David Lynch. Então, por que não aceitar as possibilidades novas que o titulo em português, muitas vezes rechaçado, nos oferece? Sim, o filme é sobre uma cidade específica, Los Angeles, e todos os sonhos de sucesso que ela oferece. Mas o filme é também sobre a paixão e sua possibilidade de se criar mundos, de se criar lugares, através do delírio e ilusão. Mulholland Drive é a estrada que liga essa essas duas possibilidades, em um filme dividido ao meio por um tal de Club Silencio, aquele canto onde só existe a melancolia. Não sabemos se de um amor não vivido ou já partido, mas aceitamos a ilusão com tudo de real que ela oferece.” (Milton do Prado, Amor Louco)